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Limites

Neste texto pretende-se fazer uma reflexão sobre a importância dos limites no desenvolvimento infantil, bem como as possíveis consequências da sua ausência. Abordarei alguns factores que podem contribuir para o aparecimento de problemas de comportamento, bem como algumas estratégias que podem ajudar os pais a reduzir problemas comportamentais das crianças.

Limites

A infância é o período de desenvolvimento do ser humano em que ocorrem as mudanças mais rápidas e importantes do desenvolvimento humano. Durante este período formam-se os primeiros laços de afecto, emergem as características pessoais e acontecem os primeiros contactos da criança com o meio envolvente, onde vai conhecer e experimentar valores e normas de integração como a partilha, a cooperação e o respeito pelo outro.

Importância dos limites do desenvolvimento infantil
Para que a criança adquira o conhecimento destes valores e normas sociais é necessário que em casa exista um ambiente familiar estruturado, onde a criança saiba que existem limites e o que esperam do seu comportamento. Ou seja, ao mesmo tempo que recebe carinho e compreensão é necessário que também sejam estabelecidos limites, e que comportamentos são aceitáveis ou não, pois facilita a compreensão e aprendizagem das normas sociais e ajuda a desenvolver um sentimento de segurança. Assim, à medida que cresce, a criança vai adquirir confiança nos pais e, consequentemente, em si própria. No entanto, é expectável que as crianças, ao longo do desenvolvimento, contraíam esses limites e tentem ultrapassa-los, cabendo ás figuras parentais orienta-los nesse percurso.

Os pais ao permitirem e aceitarem tudo à criança, não favorecem a descoberta do respeito para poder ser respeitada, nem ajudam a gerir emoções, a desenvolver o autocontrolo ou a resolver problemas de um modo não agressivo.
Neste sentido, os problemas de comportamentos podem surgir quando os pais têm uma atitude mais permissiva em relação às crianças, mas também quando existem atitudes desajustadas como agressões físicas e verbais, a ausência de respeito pelos outros, a não obediência e o desafio são permitidos, ultrapassando a fronteira do respeito.
Os comportamentos das crianças, devido a falta de limites, poderão ter um impacto negativo no relacionamento dos pais com a criança, na relação conjugal, na relação fraterna, na relação da criança com a família alargada e no processo de aprendizagem.

Factores que podem contribuir para o aparecimento de problemas de comportamento

a) Características Individuais:
– Temperamento da criança: Este factor diz respeito a características que a criança manifesta de forma consistente ao longo do seu desenvolvimento (ex: níveis de atividade, resposta emocional a situações do quotidiano, a qualidade de humor e a capacidade de adaptação social).
– Temperamento das figuras parentais: Algumas características do temperamento dos pais podem contribuir para o aparecimento de problemas de comportamento. A título de exemplo, imaturidade, a impulsividade, a hostilidade, a rejeição, a ausência de disponibilidade emocional para estar com a criança ou algum problema de origem psicológica (depressão).

b) Características familiares:
– Processo de socialização da criança: Diz respeito á maneira como os pais e outros cuidadores transmitem valores tais como o respeito, a tolerância e aceitação dos outros. Os pais ao definirem os valores e regras sociais estão a ajudar a criança a iniciar o processo de autorregulação, ou seja, a controlar o seu próprio comportamento conforme as expectativas dos adultos.
– Os estilos parentais: A disciplina é considerada um meio de socialização que inclui a aprendizagem e comportamentos que vão ajudar a criança crescer em harmonia com seu meio envolvente e a adquirir o autocontrolo. Os pais para definirem o seu estilo de educação parental, recorrem aos modelos de educação que tiveram na sua própria infância.

c) Características sociais: Este factor diz respeito à cultura em que a criança está inserida. Ou seja, cada cultura tem as suas regras, valores e normas sociais, e estas vão influenciar o comportamento da criança.
– Processo de Aprendizagem: Este processo requer tempo e um conjunto de interações entre aquilo que a criança vê, pensa e faz e o que lhe é permitido ou proibido, mas também o que lhe é obrigatório. À medida que a criança cresce vai sendo cada vez mais exposta a situações que exigem que ela própria consiga regular o seu comportamento.

Atitudes parentais que ajudam a diminuir a ocorrência de problemas de comportamentos das crianças
1. Clarificar fronteiras: Para se começar a mudar as regras é necessário, em primeiro lugar, clarificar os papéis e as tarefas de cada um dos membros que constituem a família;

2. Definir regras: É importante estabelecer regras que se adeqúem aos valores familiares mas também à personalidade da criança. O incumprimento destas regras levava obrigatoriamente a uma punição/castigo, que será decidido pelos pais. Só através do estabelecimento das regras é que as crianças compreendem o que é esperado ao nível social e promove a sua autonomia;

3. Acabar com punições físicas: Pois através de punições físicas a criança pode adoptar esse “modelo” mais agressivo na forma de lidar com outras pessoas. Neste sentido, face a um comportamento que a criança demonstre que desagrade aos pais, estes devem optar por uma punição moderada. Ou seja, definirem que a punição implicaria o não acesso a determinadas regalias durante um período de tempo (ex: ficar sem telemóvel durante 1 semana);

4. Destacar as qualidades: Muitas vezes os pais estão centrados nos comportamentos desadequados dos filhos, é necessário focarem-se numa qualidade que a criança possa ter, para que esta se sinta motivada e competente para alterar o comportamento que os pais não aprovam;

5. Antecipar a presença de problemas: Os pais devem começar por compreender como e onde os comportamentos inadequados aparecem e o que os mantem presentes. Também seria importante identificar os factores que os desencadeavam e como os pais atuavam. Ao identificar estes aspectos, os pais podem alterar aquilo que não esta a funcionar bem;

6. Não à “mimalhice”: Ou seja é importante que as crianças percebam que o mimo é uma forma de afecto/ carinho verdadeiro, mas que não significa terem todos os brinquedos ou objetos que querem;

7. Conquista da obediência: Tanto o pai como a mãe devem ser firmes, e as crianças devem obedecer a ambos da mesma forma. Quando isso não acontece é importante que o parceiro transmita segurança e apoio de modo a que a criança obedeça a ambos da mesma forma;

8. Compreender o “Não”: É importante que as crianças compreendam que o significado da palavra “não”, para isso os pais tem de ter uma atitude firme de forma a não cederem à criança;

9. Promover autonomia: Isto através da delegação de tarefas que a criança deve fazer no quotidiano (ex: vestir-se sozinha). Deste modo a criança consegue perceber que pode explorar o seu meio envolvente e, caso surja alguma dificuldade, os pais estão consigo para que juntos a consigam ultrapassar;

10. Tempo para a brincadeira: É importante que os pais diariamente tenham um tempo para brincar com os filhos e realizarem tarefas que os filhos gostam;

11. Os pais terem tempo a dois: É importante que os pais tenham planos a dois, como exemplo, ida ao cinema ou jantar fora, isto de forma a não estarem tão absorvidos nos comportamentos desadequados das crianças.

Dra. Cecília Carvalho
Clínica de Psicologia e Terapia da Fala em Lisboa
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