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Perturbação do Espectro do Autismo

A intervenção realizada junto de uma população tão específica como é a de indivíduos com Perturbações do Espectro do Autismo, conduz a adaptações constantes de materiais e instrumentos, na tentativa de criar as condições necessárias para que se consiga construir um vínculo com o individuo e suas famílias, indispensável ao sucesso de qualquer modelo de prática profissional.

Perturbações do Espectro do Autismo

Autismo ITAD

Assim sendo, é fundamental caracterizar o autismo, ressalvando sempre que cada individuo é único e especial dentro da sua individualidade e que, o resultado da intervenção depende da partilha e do crescimento comum entre indivíduo, família e técnico, procurando colmatar algumas das complexas características deste espectro, suavizando as perturbações de comunicação e relação existentes. É ser fundamental salientar que a intervenção juntos destes indivíduos é longa, morosa e extraordinariamente difícil, vendo-se o técnico muitas vezes confrontado com a revolta, compreensível, das famílias perante a situação, com a ausência de resposta por parte do indivíduo e com as suas próprias dúvidas perante características para as quais ainda não existe explicação científica unânime.

Caracterização da Perturbação
A designação de autismo refere-se a um conjunto de comportamentos básicos da esquizofrenia, provém da palavra grega “autos”, que significa próprio. Este termo mantém na atualidade apesar de terem existido outras designações.

Presentemente as Perturbações do Espectro Autista incluem-se nas Perturbações Globais do Desenvolvimento e são consideradas perturbações graves, precoces, crónicas e incuráveis do neuro-desenvolvimento, podendo a sua sintomatologia variar. O diagnóstico desta perturbação é realizado através de observação direta do comportamento e, apesar da subjetividade adjacente, existem escalas de diagnóstico que permitem hoje uma maior precisão e precocidade na realização de um diagnóstico.

Esta alteração de comportamento afeta três áreas de funcionamento: a interação social, a comunicação e as atividades e interesses do sujeito. Este comprometimento manifesta-se na diminuída qualidade das interações sociais, na diminuta ou inexistente comunicação não verbal e verbal, na reduzida actividade imaginativa e no restrito repertório de atividades e interesses do indivíduo autista.

Ao nível da interação social podem ser apresentados quadros que envolvam alteração do contacto social, défice na partilha social ou auto-isolamento social, relação instrumental substituindo a relação expressiva, relação atípica, sem interesse pela amizade, ausência de consciência dos sentimentos dos outros, dificuldade em compreender as regras sociais, sem curiosidade, dificuldades de imitação.

A nível da comunicação, o défice pode afigurar-se como um atraso ou desvio da linguagem verbal, défice na comunicação não-verbal, défice de compreensão, poucas competências de conversação, compreensão literal do discurso ou a presença de características comunicacionais peculiares, como o uso da linguagem idiossincrática, da ecolália e da inversão pronominal e uma ausência da entoação.

O comportamento tende a ser repetitivo e as atividades e interesses restritos. O jogo tende a ser repetitivo e estereotipado, podendo apresentar um défice na imaginação, tardia funcionalidade e simbolismo dos objetos, preocupações invulgares, relação invulgar com os objetos, insistência nas rotinas e rituais e movimentos motores estereotipados, como bruxismo, rodopiar ou colocar-se em bicos dos pés.

Outras características que o espectro autista pode manifestar na resposta a estímulos sensoriais são a hipo ou hiper sensibilidade ao som, o medo ou fascínio por certos ruídos, o evitamento de certas texturas, alimentos ou cores, a atração por determinados cheiros e brilhos, a hipo ou hiperatividade e a alteração na reação à dor.

Para além dos sintomas próprios da perturbação, também existem outros problemas associados, como défice cognitivo, epilepsia, problemas sensório motores, alteração do padrão de sono ou vigília, particularidades do padrão alimentar e alterações comportamentos.

Os números de incidência do Autismo Infantil divulgados por diversos autores variam de acordo com os critérios de avaliação estabelecidos e consoante os critérios tidos em conta. Atualmente, é referida uma incidência de 5 casos em 10000 habitantes, quatro a cinco vezes superior no sexo masculino.

Apesar do seu vasto leque de consequências e do crescimento exponencial do seu diagnóstico, a sua causa e cura continuam desconhecidas, sendo apenas possível aliviar alguns sintomas através de medicação, acompanhamento psicológico ou outras intervenções no quotidiano da criança, de forma a torná-lo o mais regrado e previsível possível.

São múltiplas as teorias que pretendem esclarecer as perturbações do espectro do autismo, contudo, se por um lado se encontram teorias comportamentais que “(…) tentam explicar os sintomas característicos desta perturbação com base nos mecanismos psicológicos e cognitivos subjacentes (…)”, por outro lado encontram-se as teorias neurológicas e fisiológicas que “(…) tentam fornecer informação acerca de uma possível base neurológica”. Embora a diversificação das áreas de estudos, os resultados não se apresentam sempre como conflituosos, mas como complementares, conduzindo a uma identificação cada vez mais clara e operacional da etiologia desta perturbação.

No caso do espectro autista é importante avaliar o nível de funcionalidade, as características comportamentais e o perfil, englobando este último, competências e necessidades. É importante ter em conta as capacidades emergentes, as forças, os interesses, a organização e distratibilidade, a atenção, independência e motivação.

Outras áreas importantes de avaliação são as respostas aos estímulos, sejam estes sonoros, visuais, tácteis ou olfativos, e a comunicação e linguagem utilizada pela criança, usando como critérios a intenção comunicativa (como pede, rejeita, expressa sentimentos), nível de linguagem expressiva (verbal e não-verbal, ecolália, semântica e pragmática) e linguagem compreensiva.

Problemas de comunicação, trabalho com famílias e motivação
Pensa-se que a dificuldade de intervenção junto das famílias de indivíduos com este tipo de perturbação, existe desde as primeiras tentativas de tratamento psicanalítico do autismo. As famílias destes indivíduos eram descritas como fortemente preocupadas com questões científicas e limitadas no interesse pelos seus filhos e acreditava-se que “estas crianças vieram ao mundo com a incapacidade inata para construir biologicamente o contacto afetivo habitual com as pessoas”. Este tipo de crença fez com que se cavasse um fosso entre famílias e técnicos.

Os técnicos que intervêm junto destas famílias devem convidá-las a refletir sobre as características das suas crianças, apoiando-as na procura de um sentido. Não devem ser feitas acusações ou atribuições de culpa. É fundamental que o técnico esteja convencido de que sejam quais forem as disfunções da relação da criança com o meio e independentemente da gravidade da sua situação, as famílias não são a sua causa.

Para que a intervenção junto da criança tenha sucesso é necessário que se estabeleça uma aliança terapêutica com as famílias. Esta, servirá de referência quando o caminho a percorrer parecer demasiado tumultuoso e os resultados incertos e servirá para que o desanimo, a dúvida e a desmotivação não de abatam sobre famílias e técnicos.

Pensa-se que a hipótese de que as crianças autistas são incapazes de produzir expressão emocional ou empatia com o outro é incorreta. Desta forma, é fundamental compreender porque razão as emoções são evitadas. Sugere-se que, para estas crianças, as emoções são demasiado intensas, ao ponto de não saberem como as gerir e controlar, tornando-as percetíveis. Assim sendo, as estereotipias motoras frequentes podem traduzir-se como a tentativa de readquirir o controlo das situações que a criança não compreende. Acontece que estas manifestações físicas são, muitas vezes, incompreensíveis para quem vivência a situação externamente. Nestes momentos, pensa-se que o técnico deve prestar particular atenção para que lhe seja possível falar com a criança com termos que ela possa compreender, encorajando-a a partilhar as suas emoções.

Quando aprendem a falar, as crianças sem qualquer tipo de problemática, utilizam a linguagem para criar uma relação com o outro, para comentar as suas emoções, mais ainda do que para trocar informações. A motivação que a criança tem para falar assenta na necessidade de partilhar os seus sentimentos. É neste ponto que a perturbação das crianças autistas condiciona o seu bem-estar: na comunicação e na relação com o outro. Desta forma, é então aqui que a intervenção se deve centrar.

Para ajudar estas crianças a entrar no mundo da comunicação, devemos prever as suas emoções. Esta situação só é possível quando se adquire um profundo conhecimento das suas características. Muitas vezes, as famílias não têm confiança suficiente em si mesmas para o fazer. A melhor forma que os técnicos têm para as ajudar é partilhando com elas as suas próprias dúvidas e incertezas, partindo do princípio que mesmo que se comentam erros, o fundamental é fornecer à criança uma descodificação dos nossos próprios sentimentos; apresentando-lhe um vasto leque de emoções. Pensa-se ser de extrema importância que todos os intervenientes conheçam a morosidade de todo este processo. Caso contrário, poderão sentir que os progressos são demasiado lentos e que qualquer avanço é ínfimo, conduzindo à desmotivação.

Como qualquer criança, as crianças autistas apresentam uma grande disparidade de comportamentos, alguns são meigos e afáveis, outros são agressivos e apresentam dificuldades comportamentais, alguns apresentam dificuldades específicas de aprendizagem que prejudicam o desempenho escolar e outros alcançam sucesso académico.

Dr. Sérgio Pereira
Psicologo em Lisboa do ITAD
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