Problemas de Aprendizagem
Existe muitos problemas de aprendizagem diagnosticados nas escolas e recorrentes na nossa clinica de psicologia ITAD em Lisboa.
Dificuldades de Aprendizagem
Neste texto pretendo definir o que são dificuldades de aprendizagem, qual a sua prevalência em Portugal, algumas das suas causas, e por fim, a avaliação e intervenção que deve ser realizada com estes alunos.
Definição
Na literatura a definição de dificuldades de aprendizagem não é de todo consensual. Actualmente, o conceito de dificuldades de aprendizagem é aplicado quando um aluno, na área académica, apresenta uma discrepância significativa entre aquilo que é esperado em função da idade e aquilo que efectivamente realiza. Estas dificuldades podem apresentar um carácter mais especifico numa determinada área (ex: dislexia) ou ter uma predominância mais geral, afectando todas áreas de realização escolar.
Prevalência em Portugal
Em Portugal estima-se que metade da população estudantil possua/sofra de alguma dificuldade de aprendizagem, podendo ser esta mais especifica ou de carácter mais geral.
Etiologia das dificuldades de aprendizagem
No mesmo modo que não existe um consenso na literatura para definição de dificuldades de aprendizagem, o mesmo acontece em relação ás causas que podem levar os alunos a sentirem dificuldades ao nível da aprendizagem. Contudo, existem 3 grandes áreas que tentam perceber o que pode levar ao seu aparecimento, sendo elas de carácter: Biológico, Psicológico ou Ambientais.
No que se refere ás causas biológicas, têm sido realizados vários estudo no sentido de se identificar alguma alteração genética que possa explicar as dificuldades sentidas por alguns alunos, pois tem-se verificado uma maior prevalência de dificuldades de aprendizagem em determinadas famílias. A titulo de exemplo, 25% a 60% dos pais de crianças com problemas de leitura, experienciam eles próprios problemas de leitura.
Outros estudos têm tido especial foco na tentativa de relacionar as dificuldades de aprendizagem com diferenças estruturais e funcionais do cérebro. Estes estudos concluem que existem de facto algumas alterações anatómicas e bioquimicas nos cérebros dos alunos com dificuldades de aprendizagem. No entanto, apesar de todos os estudos realizados ao nível dos aspectos biológicos, existem dificuldades em estabelecer uma relação entre as causas em hipotese e os modelos de intervenção a utilizar.
No que diz respeito aos estudos psicológicos, estes surgem sobretudo ao nível dos avanços da psicologia cognitiva, relativamente aos aspectos que influenciam a atenção, a memoria, o processamento de informação, a motivação, a baixa auto-estima, o relacionamento entre pares, etc. No entanto, os estudos têm demonstrado que o baixo rendimento escolar promove baixa auto-estima, falta de motivação, dificuldades no relacionamento com os pares e uma maior desatenção por parte do aluno e não o contrário.
Relativamente ás influencias ambientais, estas incidem sobretudo ao nível do ambiente familiar e das características do meio escolar. Verifica-se que um ambiente familiar orientado para a escola/aprendizagem, para além de favorecer determinadas crianças, consegue ser mais rápido na detecção de possíveis dificuldades de aprendizagem. Este é um factor crucial ao nível da intervenção a fazer com estas crianças, pois quanto mais cedo for feita a sinalização melhor será o prognostico para a criança.
Outro aspecto ambiental que influencia bastante as dificuldades de aprendizagem é o meio escolar, pois é neste meio que ocorre a transmissão de conhecimento, que nem todos os alunos conseguem integrar da mesma forma. Logo, um aspecto que deve ser analisado no meio escolar é o modo como é transmitido o conhecimento, ou seja, a instrução dada pelo professor. Este factor deve ser entendido não no sentido de provocar dificuldades de aprendizagem, mas sim no porquê de não conseguir transmitir os conhecimentos a determinados alunos.
Neste sentido, os professores devem ter isto em conta no sentido de conseguirem reformular a instrução de modo a que estes alunos com dificuldades de aprendizagem consigam adquirir os conhecimentos que anteriormente não conseguiram com a instrução geral dada à turma. Outro aspecto que a escola deve ter em consideração reside na forma como consegue escolher, apoiar e influenciar o trabalho dos seus professores, no sentido de identificar precocemente as dificuldades de aprendizagem dos alunos e intervir atempadamente sobre elas.
Por ultimo, deve-se ter em conta um factor extra-escolar de natureza organizacional (delegado pelo Ministério da Educação) que se relaciona com o tempo dedicado a cada matéria do programa. Pois os alunos com dificuldades de aprendizagem necessitam de mais tempo para cumprir os requesitos programáticos que os restantes alunos.
Na minha perspectiva considero que as Dificuldades de Aprendizagem surgem como consequência da conjugação das 3 áreas que anteriormente descrevi.
Avaliação dos alunos com Dificuldades de Aprendizagem
É que os psicólogos tenham a percepção do impacto que as dificuldades de aprendizagem têm ao nível da dinâmica cognitiva, emocional, comportamental, interpessoal e familiar.
Deste modo, a avaliação dos alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem devem cumprir os seguintes objectivos:
• Adquisição de uma razoável compreensão dos problemas de aprendizagem do aluno, ou seja, como são percepcionadas pelos adultos que convivem de mais perto com ele e, naturalmente, pelo próprio;
• Compreenção da história e do processo de evolução do problema;
• Avaliação da natureza especifica das dificuldades de aprendizagem da criança, ou seja, as suas potencialidades e eventuais vulnerabilidades cognitivas e comportamentais;
• Perceção do tipo de interacção entre ensino e aprendizagem ao longo do trajecto escolar do aluno;
• E por fim, obtenção de uma formulação do problema que sustente as recomendações claramente direccionadas para a criança e que os professores e pais possam cumprir.
Intervenção com alunos com Dificuldades de Aprendizagem
Com base na avaliação previamente realizada a intervenção com crianças com dificuldades de aprendizagem deve visar os seguintes aspectos:
• Trabalhar em conjunto com a equipa pedagógica e com os pais, de modo a elaborar estratégias psicopedagógicas que possibilitem o sucesso académico da criança, estando todas as pessoas envolvidas no processo.
• Participar em reuniões de turma, em que o psicólogo possa, em conjunto com os professores envolvidos, estabelecer novas formas de perceber o problema do aluno, evitando “rótulos”, diagnósticos imprecisos e hipóteses únicas e fechadas.
• E, por fim e não menos importante, trabalhar com a criança as suas eventuais vulnerabilidades sociais, emocionais e comportamentais, no sentido em que não ocorra qualquer estigmatização devido às suas dificuldades de aprendizagem.
Apesar destes problemas de aprendizagem, as crianças com dislexia apresentam uma capacidade intelectual normal ou superior à média, podendo evidenciar capacidades acima da média em áreas que não dependam diretamente da leitura e escrita (arte, desporto, música, etc.).
As dificuldades de aprendizagem estão diretamente associadas quer ao nível do sucesso escolar, quer ao nível do comportamento e interação social. Pois são dois fatores muito afetados em alunos com dificuldades de aprendizagem graves.
A intervenção e a reeducação adequadas nos problemas de aprendizagem de leitura e escrita implicam a realização de uma avaliação neuropsicológica e psicopedagógica inicial, com o intuito de realizar uma exploração das características emocionais, cognitivas e sociais, que permita o delineamento de um programa de intervenção ajustado às reais necessidades e motivações da criança em causa.
O Programa de Reeducação da Aprendizagem da Leitura e Escrita é composto por conjunto de sessões de atividades multissensoriais e cumulativas que incidem nas pré-competências da aprendizagem da leitura e nas funções cognitivas afetas ao processamento da informação linguística designadamente:
- Percepção visual;
- Percepção auditiva;
- Memória visual;
- Memória auditiva;
- Memória de trabalho;
- Atenção;
- Associação Visual e Auditiva,
- Planeamento da ação;
- Leitura e escrita.
Para aumentar a eficácia da intervenção o Psicólogo da Educação articula frequentemente com outros técnicos e agentes educativos mediante um modelo sistémico de intervenção capacitando-os para uma atuação mais ajustada às necessidades da criança.
Quando paralelamente à perturbação de leitura e escrita existem ainda atrasos significativos ao nível da fala e da linguagem pode ser necessária a intervenção em parceria com o terapeuta da fala ao nível da intervenção na expressão oral. Sempre que se considerar necessário devem ser realizados exames complementares de diagnóstico designadamente ao nível visual, auditivo e neurofuncional.