Clínica de Psicología em Lisboa

ITAD » Disfagia

Disfagia

Além de nos manter vivos, a alimentação é um momento de prazer e um ato social.

Deglutição
A deglutição tem como objetivo conduzir o alimento para o tubo digestivo e manter o trato respiratório livre de resíduos.
É composta por quatro fases:
1) Fase preparatória oral – o alimento que foi mastigado com a saliva forma uma pasta mole denominada bolo alimentar;
2) Fase oral – impulsão do bolo e desencadear do reflexo de deglutição;
3) Fase faríngea – levantamento da laringe e descida da epiglote (proteção das vias aéreas);
4) Fase esofágica – o bolo chega ao estômago.

Disfagia
A disfagia é uma dificuldade em deglutir (engolir), devido a alteração nos mecanismos do controle neuromotor ou sensorial da deglutição. Estas dificuldades podem dever-se a: fraqueza muscular dos lábios, língua, véu palatino, faringe e/ou esófago; descoordenação dos movimentos; falta de sensibilidade nas regiões oral e faríngea. É um sintoma comum em diversas doenças.
Pode trazer complicações como desidratação, infeções pulmonares (no caso dos alimentos seguirem pelo trato respiratório em vez do digestivo – aspiração) e subnutrição.
Pode afetar crianças, adultos e idosos, sendo mais comum neste último grupo.

Prevalência
Aproximadamente entre 27% a 50% dos pacientes que sofreram um AVC apresentam disfagia. Destes, cerca de metade falece ou recupera espontaneamente nos primeiros dias após lesão (as melhorias mais significativas ocorrem durante as primeiras 8 semanas, embora possam verificar-se até 6 meses após a lesão), apresentando os restantes alterações do processo de deglutição.

Etiologia
As disfagias podem ser neurológicas – repentinas (exs.: AVC e TCE) ou degenerativas (exs.: Doenças de Parkinson e Alzheimer) – mecânicas (exs.: hérnia distal e tumor) ou psicogénicas (exs.: problemas emocionais ou distúrbios da personalidade).

Tipos de disfagia
Dependendo do local onde existe a alteração da capacidade de deglutição, denomina-se por: oral, orofaríngea, faríngea, faringoesofágica ou esofágica. Existem ainda autores que acrescentam a disfagia cardíaca quando a aurícula esquerda se dilata e comprime o esófago e a disfagia botulínica quando se verifica a penetração de toxina botulínica tipo A nos músculos faríngeos.

Sintomas
Os sintomas da disfagia podem ser físicos como a tosse, o pigarreio, o engasgamento, a queda de baba (sialorreia), a dor ao engolir (odinofagia), a regurgitação nasal, o armazenamento de comida dentro da cavidade oral, tempo prolongado para engolir, a mudança na voz após a alimentação, as dificuldades de mastigação, a necessidade de engolir várias vezes, a perda de peso, a falta de ar, pneumonias por repetição e a desidratação ou emocionais como o pânico de comer, a incapacidade de ingerir diversas texturas de alimentos, a depressão e a fadiga.

Avaliação
Sempre que possível a avaliação em terapia da fala deve englobar 3 formas:
– Avaliação da motricidade orofacial – visa avaliar, diagnosticar e tratar as alterações estruturais e funcionais das regiões da cavidade oral, da face e do pescoço.
– Avaliação funcional (fase oral, faríngea e esofágica);
– Avaliação instrumental da deglutição – videofluoroscopia. Trata-se de um exame radiológico que usa a movie-type x-ray (fluoroscopia), permitindo a visualização pormenorizada das estruturas e o acompanhamento em tempo real dos processos que ocorrem nas fases oral e faríngea da deglutição durante a ingestão de alimentos de qualquer consistência e volume, desde que lhes seja adicionado contraste de bário. É usado em pacientes de todas as idades e com diferentes doenças.

Intervenção
O tratamento pode ser clínico (terapia da fala ou medicação) ou cirúrgico, sendo da responsabilidade de uma equipa multidisciplinar constituída pelo médico (neurologista, ORL…), enfermeiro, dietista, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, terapeuta da fala e radiologista. O terapeuta da fala tem um papel fundamental no diagnóstico, prognóstico e reabilitação da deglutição, promovendo a saúde com maior qualidade de vida.

Casos específicos
Em certos casos, o paciente necessita ser alimentado por sonda. Na entubação nasogástrica é introduzida uma sonda por uma narina até ao estômago. O objetivo é permitir a administração de alimentos sólidos e líquidos e medicamentos aos doentes. Não necessita de anestesia, apenas da colaboração do paciente. Na gastrostomia é feito um orifício artificial ao nível do estômago o que permite uma ligação direta com o meio interno do paciente. Esta cirurgia só é feita em pacientes que perderam temporária ou definitivamente a capacidade de deglutição pelo menos por mais de 3 anos. Para curtos períodos, a alimentação nasoenteral (feita com uma sonda mais fina que a nasogástrica, com ligação direta ao intestino e que apenas está aberta durante a infusão de alimentos) e nasogástrica são as mais recomendadas.
Ambas estas situações podem ser reversíveis, pelo que é fundamental continuar a trabalhar a deglutição.

Prognóstico
O prognóstico depende de factores como a etiologia, a localização e extensão da lesão, a idade, doenças anteriores, distúrbios associados, meio social e familiar, motivação, personalidade e estado psicológico e intervalo entre a lesão e o início da terapia.

Aconselhamento geral
• Manter uma postura ereta e confortável (só comer deitado se houverem indicações específicas);
• Comer com calma;
• Ter uma prótese dentária estável;
• Modificar a consistência dos alimentos (ex.: comida pastosa e líquidos espessados);
– Evitar distrações enquanto se alimenta;
– Se presenciar um engasgo, não ofereça água ou coloque a sua mão na boca do indivíduo (deixe-o tossir e peça ajuda se necessário).

Dra. Alexandra Mestrinho
Terapeuta da Fala do ITAD
Clínica de psicologia e terapia da fala em Lisboa
Av. Almirante Reis nº59 1ºEsq 1150-011 Lisboa – Portugal
211 371 412 – 961 429 911