Perturbações do sono
As perturbações do sono estão entre as queixas mais comuns ao longo de toda a infância, a par das doenças físicas, da alimentação, dos problemas de comportamento e das deficiências físicas. Contudo, os problemas de sono nas crianças têm sido considerados transitórios, sem gravidade e sem consequências a longo prazo. Felizmente, nos últimos anos, esta posição tem-se revertido, atribuindo-se mais importância ao sono e aos seus problemas, durante a infância e adolescência.
Em Portugal, a epidemiologia dá os primeiros passos. Estima-se que cerca de 30% das crianças sofrerão de perturbação do sono, em algum momento da sua infância. As queixas focam-se sobretudo nas insónias e sonolência ao acordar. Outra questão igualmente importante prende-se com o número de horas adequadas que cada criança deve dormir e com os horários de deitar e acordar. Desajustamentos horários ou alterações nestas rotinas poderão ter um impacto negativo na quantidade e qualidade do sono, que por sua vez afetará funções cognitivas, como a atenção, a memória e consequentemente o rendimento académico.
As perturbações do sono têm consequências tanto no ajustamento emocional e social, como no desempenho escolar pelo que é importante que os pais entendam como funciona o sono e de que forma as perturbações nos padrões normais do sono podem afetar crianças e adolescentes.
Funcionamento de sono
Existem dois padrões de sono: REM e não-REM. Na fase REM, a respiração e o ritmo cardíaco tornam-se irregulares, os olhos mexem muito, a pessoa não se move porque há um bloqueio dos impulsos nervosos e surgem os sonhos. A fase não-REM divide-se em 4 fases, sendo que na I e II a pessoa pode acordar facilmente, enquanto que na III e IV há muita dificuldade em acordar. Para além disso, os músculos relaxam muito, embora a pessoa possa mexer-se.
Em termos de desenvolvimento é durante a gravidez que os estados de sono se formam. Um recém-nascido dorme quase todo o dia; a partir dos 6 meses dorme cerca de 13 horas por dia; aos 24 meses dorme cerca de 12 e aos 4 anos entre 10 a 12 horas diárias. Ao longo da infância, as crianças dormem cerca de 10 horas por noite o que diminui significativamente na adolescência, não tanto por razões biológicas mas essencialmente por razões sócio-culturais.
Os padrões de sono dos adolescentes são importantes devido ao potencial impacto no desempenho escolar. Com o início da puberdade, os adolescentes começam a experimentar uma tendência para se deitarem mais tarde e acordarem também mais tarde.
Algumas perturbações do sono são suaves, comuns e relativamente fáceis de tratar mas existem outras que podem ser sinais de possíveis problemas físicos e/ou psicológicos, que podem gerar consequências a longo prazo se não forem tratadas.
Tipos de perturbações de sono
Terrores noturnos
Os terrores noturnos prendem-se com uma excitação súbita associada a explosões emocionais, tais como o medo e a atividade motora. São mais frequentes na faixa etária entre os 4 e os 8 anos, acontecem na fase de sono não REM e a criança não tem memória dos terrores noturnos quando acorda.
Sonambulismo
O sonambulismo é mais comum entre os 8 e os 12 anos de idade. Normalmente, a criança senta-se na cama com os olhos abertos mas sem ver, anda pela casa, pode ter um discurso ininteligível e rabugento. Esta perturbação tende a ser superada na adolescência.
Enurese Noturna
Este tipo de incontinência urinária é um problema do sono comum em crianças entre os 6 e os 12 anos, ocorrendo apenas durante o sono não REM. A enurese primária pode estar associada a heranças familiares, atraso no desenvolvimento ou a uma menor capacidade da bexiga. A enurese secundária está normalmente associada a causas do foro emocional.
Ansiedade
A ansiedade para adormecer deve-se aos medos ou preocupações excessivas. O problema pode ser causado por stress, trauma ou ruminação das questões comuns do dia-a-dia. Este tipo de problemática é mais comum nas crianças em idade escolar.
Apneia
Embora seja mais comum em adultos, também existem crianças com dificuldades de respiração devido à passagem do ar estar obstruída. Os sintomas incluem o ressonar, dificuldade para respirar durante o sono, respiração bucal durante o sono ou sonolência excessiva diurna.
Narcolepsia
É uma perturbação rara de base neurológica genética que pode incluir ataques de sono, o início da paralisia do sono ou alucinações do sono. Pode surgir pela primeira vez na adolescência.
Síndrome de fase de sono retardada
Perturbação do ritmo de sono, com uma incapacidade em dormir num horário normal (o início do sono pode ser adiado de 2 a 4 horas), com consequente dificuldade em despertar de manhã. Os sintomas nas crianças incluem sonolência diurna excessiva, dormir até tarde nos finais de semana e mau desempenho escolar.
Perante o acima descrito, a prevenção dos problemas de sono ganha uma importância muito maior porque uma maior consciencialização sobre a importância do sono ajuda a identificar precocemente sintomas e a impedir problemas tanto na saúde, como no bem-estar das crianças e jovens.
O que pode a Família fazer?
As perturbações do sono acabam por afetar toda a família, e não apenas a criança ou o jovem. Ficam algumas sugestões:
– Criação de rotinas tranquilas e calmantes antes de dormir
– Respeitar os medos, contar uma história, deixar uma luz acesa ou um peluche por perto
– Não deixar que durma com os pais e/ou permaneça no quarto deles
– Não se deve brincar com a criança quando não dorme ou castigá-la por isso
– É saudável falar com a criança durante o dia sobre o seu sono e o que acontece à noite.
Contudo, se estes problemas de sono persistirem por mais de seis meses ou forem acentuados, é fundamental procurar ajuda especializada, para que não fiquem sequelas no desenvolvimento.
Dra. Tânia Godinho
Psicóloga do ITAD
Clínica de psicologia e terapia da fala em Lisboa
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