Consciência Fonológica
O que é a Consciência Fonológica?
A Consciência Fonológica é o conhecimento que cada um de nós tem sobre os sons da língua materna, ou seja, é uma competência que permite identificar, manipular e refletir sobre os sons da fala. Por outras palavras, é a capacidade de perceber que a linguagem é formada por palavras, as palavras por sílabas, e as sílabas por fonemas (sons).
A marca dos três anos de idade representa um ponto importante no desenvolvimento da linguagem. É até esta idade que as crianças desenvolvem a capacidade de discriminação auditiva, ou seja, é a capacidade de distinguir os diferentes sons do ambiente e da fala. É a partir dessa idade que as crianças começam a ser capaz de fazer jogos de rimas, de produzir palavras novas ou inventadas, de dividir e de juntar sílabas. As crianças começam então a aceder à capacidade de consciência fonológica ou consciência dos sons da fala.
A consciência fonológica é uma capacidade metalinguística, que se refere à consciência de que a linguagem falada pode ser dividida em várias unidades, ou seja, a frase pode ser dividida em palavras, as palavras em sílabas e as sílabas em fonemas. A criança será ainda capaz de identificar que essas mesmas unidades se podem repetir em diferentes palavras.
A consciência fonológica envolve a capacidade de identificação, de manipulação, de combinação, de isolamento e segmentação os segmentos fonológicos da língua.
Antes que as crianças possam ter qualquer compreensão do princípio alfabético, devem entender que aqueles sons se associam às letras são precisamente os mesmos sons da fala. Para aqueles que já sabem ler e escrever, esta compreensão parece básica, quase automática. Pesquisas fidedignas revelam que a noção de linguagem falada é composta de sequências desses pequenos sons, e não surge de forma natural ou fácil nos seres humanos.
A consciência fonológica divide-se em dois níveis muito complexos: a consciência silábica e a consciência fonémica, sendo esta a ordem de trabalho durante a aquisição da leitura e escrita.
As etapas de aquisição da consciência fonologia dependem das experiências linguísticas, do desenvolvimento cognitivo da criança, e da exposição ao sistema alfabético para aquisição da leitura e escrita.
Níveis da consciência fonológica:
– Noção de palavra (capacidade de segmentar a frase em palavras, organizá-las e dar-lhe sentido);
– Noção de rima (capacidade de identificar rimas);
– Aliteração (capacidade de identificar ou repetir a sílaba ou fonema no início da palavra);
– Consciência silábica (capacidade de segmentar palavras em sílabas, a criança tem de identificar e discriminar as sílabas);
– Consciência fonémica (capacidade de manipular e isolar os fonemas que compõem a palavra).
O desenvolvimento da Consciência Fonológica
O seu desenvolvimento processa-se praticamente desde que a criança nasce e depende de alguns fatores:
• Desenvolvimento cognitivo e intelectual da criança
• Exposição a experiências linguísticas
• Aprendizagem da leitura e escrita
Nem sempre a consciência fonológica se processa da mesma forma em todas as crianças mas geralmente segue os seguintes passos:
1 – 3 Meses: a criança consegue detetar o som da voz materna.
3 – 6 Meses: orienta a cabeça em direção de uma fonte sonora.
9 – 13 Meses: a criança começa a perceber o processo de produção de fala consiste numa sequência de sons da voz humana, tentando imitar o adulto. É neste período que a criança começa a dizer as primeiras palavras.
30 – 36 Meses: distingue todos os sons da sua língua, faz autocorreções aquando a produção do seu discurso, percebendo o encadeamento sonoro correto
3 – 4 Anos: divide palavras simples em sílabas. Identifica rimas.
5 Anos: identifica sons em palavras
6 Anos: adquiriu as capacidades anteriores mas apresenta lacunas na consciência fonémica (capacidade adquirida que consiste na manipulação e substituição de unidades sonoras que constituem as palavras), uma vez que ainda não iniciou o processo de aprendizagem da leitura e escrita.
A partir dos 6 anos (após entrada no 1º ciclo): domina todos os níveis da consciência fonológica
Relação da Consciência Fonológica com a Leitura e Escrita
Na entrada para o 1º ciclo a criança faz duas das mais importantes aquisições, que decerto será preponderante na sua vida futura: a Leitura e a Escrita. Na verdade, a Escrita é a exposição gráfica da oralidade. No caso da Língua Portuguesa é principalmente de constituição fonémica, isto é, para cada representação gráfica (letra) existe pelo menos uma correspondência fonémica (som). As palavras escritas são compostas por combinações de letras que estão constantemente relacionadas com as unidades sonoras que representam. A capacidade para fazer esta relação só é possível se a criança conseguir identificar e manipular os sons da língua, ou seja, ter acesso à Consciência Fonológica.
A capacidade de identificar os sons e as suas combinações que constituem a fala são um marco importante na aprendizagem da leitura e escrita. Esta tarefa resulta da relação entre a escrita e a oralidade, o que implica a identificação dos fonemas e a sua manipulação, para que seja estabelecida a relação necessária entre eles para formar as palavras pretendidas.
Tendo em conta que a Consciência Fonológica tem uma influência positiva na aquisição da Leitura e Escrita, é fundamental que à entrada para o 1º ciclo, a criança tenha adquirido competências a este nível. Porém, há crianças que terminam o ensino pré-escolar com lacunas na aquisição da Consciência Fonológica, o que nem sempre é percetível até à aprendizagem da Leitura e Escrita. Nesta fase podem surgir perturbações na literacia que se vão repercutir noutras aprendizagens e consequentemente no sucesso escolar.
É fundamental que pais e professores estejam atentos a alguns sinais de alerta para que haja um encaminhamento precoce para Terapia da Fala.
Sinais de alerta
Pré- Escolar:
• Fala tardia
• Linguagem muito infantil (falar “à bebé”)
• Dificuldades em pronunciar corretamente palavras
• Dificuldades em aprender e decorar canções, rimas e lengalengas
• Antecedentes familiares de fala tardia ou alterações na linguagem e fala
1º Ano de escolaridade:
• Dificuldades em detetar e discriminar os sons da língua (por exemplo quando a criança ouve “faca” e “vaca”, não identifica diferenças).
• Dificuldades em dividir palavras em sílabas e fonemas
• Dificuldades em associar as letras aos seus sons (por exemplo a letra S lê-se “ésse”).
• Dificuldades na leitura de sílabas e palavras, especialmente palavras complexas ou pouco usuais no seu dia-a-dia.
• Erros ortográficos no processo de escrita
– As crianças que têm alterações ao nível da fonologia apresentam um desempenho inferior ao esperado para a sua idade nas tarefas de consciência fonológica, sobretudo nas tarefas de soletração, o que pode vir a interferir na aprendizagem da leitura;
– As crianças com perturbações articulatórias apresentam por norma maior probabilidade de iniciarem a aprendizagem com capacidades fonológicas atrasadas, o que vai influenciar a aprendizagem da leitura e escrita;
– As crianças que vivem em meios socioeconómicos desfavorecidos têm menor contato com a estrutura fonológica da linguagem, por isso apresentam níveis de realização de leitura inferiores às crianças que vivam em meios mais favorecidos.
Avaliação:
A avaliação da consciência fonológica deve passar por vários níveis, sendo eles, a identificação de rimas, a segmentação silábica, identificação de sílabas inicias iguais, identificação de fonemas iniciais iguais, segmentação fonémica, comparação do tamanho das palavras e representação de fonemas com letras.
Sugestão de atividades
O Terapeuta da Fala deve colaborar com os professores de modo a que o treino da consciência fonológica seja trabalhado o mais cedo possível e assim diminuir as dificuldades nesta área.
Os professores e os pais podem trabalhar a consciência da palavra (dizer uma frase à criança e esta tem que bater as palmas consoante o número de palavras que tenha a frase, nomear uma frases e pedir à criança que substitua uma palavra da frase, dando sempre a hipótese de substituição), a discriminação auditiva (nomear duas palavras e pedir à criança que diga se são iguais ou diferentes), as rimas (contos rimados, identificar duas palavras quem rimam e nomear palavras que rimem com uma palavra alvo) e a segmentação silábica (bater as palmas, consoante cada sílaba da palavra).
• Realizar atividades de discriminação auditiva: utilizar instrumentos musicais e, sem ver, nomear o instrumento através do seu som; identificar animais pelo som que produzem e distinguir os sons produzidos por cada animal, por exemplo perceber que a cobra faz /sss/ e a abelha /zzz/ e concluir que são sons diferentes colocando a mão na garganta, o /z/ treme (som vozeado) e /s/ não treme (som surdo).
• Identificação e evocação de rimas: cantar canções infantis e ler contos rimados para nomear as palavras que rimam e identificar o “bocadinho” que rima, procurar que a criança evoque outras rimas que conheça.
• Segmentação silábica: ler uma história e pedir à criança que a reconte, selecionar palavras e pedir que divida “em bocadinhos” batendo palmas, a criança deverá contar o número de sílabas.
Dra. Iris Fernandes
Dra. Sónia Rosado
Terapeutas da Fala na Clínica do Itad em Lisboa
Clínica de psicologia e terapia da fala ITAD
Terapia da Fala no ITAD em Lisboa
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