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Terapia da Fala na Escola

Terapia da Fala na Escola tem uma importância cada vez mais fundamental para o desenvolvimento de certos alunos.
A Perturbação do Espetro do Autismo (PEA) afeta cerca de 1/1000 crianças em Portugal, segundo estudo de Oliveira et al (2007). Outros estudos recentes revelam que a sua prevalência é de 1 em cada mil, ocorrendo predominantemente no sexo masculino (3 rapazes para 1 rapariga). As características essenciais do Autismo são a presença de um desenvolvimento acentuadamente anormal ou deficitário da interação e comunicação social e um repertório restritivo de atividades e interesses. Para o diagnóstico de uma perturbação do espectro do autismo são avaliados três domínios: social, linguagem e comunicação, pensamento e comportamento.
Tendo em conta que toda a criança tem direito a um ensino que vá ao encontro das suas necessidades, as crianças com PEA inseridas no contexto escolar necessitam de um apoio personalizado que responda às suas dificuldades de comportamento, interação social e comunicação. Neste sentido, a criação de Unidades de Ensino Estruturado (UEE) nas escolas, para alunos com perturbação do espectro do autismo – através da utilização da metodologia TEACCH, veio ajudar a colmatar muitas das dificuldades dos alunos com PEA, juntamente com a contratação de técnicos de diferentes áreas, entre eles o terapeuta da fala, para prestarem apoio personalizado a estes alunos num contexto não apenas clínico, mas educacional, cooperando com uma equipa multidisciplinar. A Unidade de Ensino Estruturado nas escolas é dirigida para a educação de alunos com perturbação do espectro do autismo, constituindo uma resposta educativa especializada desenvolvida em escolas/ agrupamentos de escola que concentrem grupos de alunos que manifestem perturbações enquadráveis nesta problemática.
A adequação da metodologia TEACCH, utilizada em contexto de UEE, conjugada com estratégicas metodológicas da terapia da fala, nomeadamente a observação direta e a aplicação de testes, permite um acompanhamento ao longo do ano letivo, visando, por um lado, objetivos relacionados com competências de comunicação, linguagem e interação social e com a promoção da autonomia, e por outro, a avaliação final para medir o grau de concretização destes objetivos.
Desta forma, a adaptação da metodologia TEACCH em contexto escolar, integrada com estratégicas metodológicas da terapia da fala, ambas utilizadas em contexto de UEE, permitem o desenvolvimento de diferentes competências nas áreas da comunicação e interação social.
Apesar de os alunos que integram UEE apresentarem o mesmo diagnóstico (PEA), manifestam caraterísticas psicossociais diferentes, bem como diferentes graus de desenvolvimentos linguístico e relacional, sendo possível comprovar a eficácia da metodologia TEACCH, como uma ferramenta funcional em contexto escolar, para melhorar o desempenho, o comportamento adaptativo e desenvolver autonomia das crianças com PEA, num quadro de terapia da fala, no que respeita a maximizar comportamentos linguísticos adequados, estabelecer relações interpessoais mais concordantes com pares e adultos, e desenvolver competências comunicacionais funcionais que futuramente permitam autonomia na relação com o outro.
Verifica-se que alunos que frequentam UEE e que a beneficiam de apoio regular de terapia da fala, apresentam progressos, mesmo que ténues, no seu desenvolvimento. Ao mesmo tempo, o apoio sistemático permite a manutenção de competências, que se não forem trabalhadas persistentemente perdem-se, tendo em conta as características cognitivas de crianças com PEA.
Outro aspeto a enfatizar é o trabalho dos restantes recursos humanos das escolas, como professores de educação especial e assistentes operacionais, que fazem parte da equipa multidisciplinar e que desempenham funções indispensáveis no desenvolvimento global das crianças, e sem os quais não seria possível desenvolver um trabalho integrado.
Algumas estratégias utilizadas no âmbito da Terapia da Fala na Escola:
• Treino da atenção partilhada que permite posteriormente partilhar emoções com o outro, bem como ser capaz de chamar a sua atenção (Silva & De Vitto, 2007).
• Treino da comunicação verbal através da utilização objetos, imagens, jogos ou softwares educativos que estimulam não só a linguagem verbal, mas promovem igualmente a intencionalidade comunicativa, a atenção partilhada e discurso espontâneo.
• Utilização de estímulos sensoriais que visam promover o interesse da criança através de diferentes informações sensoriais, estimulando habilidades comunicativas e linguísticas.
• Treino de competências verbais e das habilidades de comunicação funcional através de atividades práticas como recados compras no bar, etc., privilegiando os contextos sociais naturais que estimulam a intenção e iniciativas comunicativas
• Análise da tarefa, uma vez que é frequente em alunos com PEA o foco nos detalhes em detrimento de um todo, sendo, por isso, necessário proceder a uma análise passo-a-passo, o que facilita posteriormente a sua execução (Bosa, 2001).
• Uso de recursos visuais (imagens) apelativos que promovam a interação entre o pensamento e a linguagem e ampliem as capacidades de compreensão do mundo que o rodeia.
• Treino da compreensão não-verbal, através de: compreensão de situações sociais, mensagens corporais, “visualização” dos traços não-verbais, histórias sociais e sequências com humor.

Adaptado da Tese “A Terapia da Fala em Contexto Escolar: Competências de Comunicação e Promoção da Autonomia de Alunos com Perturbação do Espectro do Autismo”
Susana Agostinho
Coimbra, 2013