Insegurança gravitacional
A insegurança gravitacional, também descrita como “medo descontrolado”, é uma desordem que se carateriza pelo receio que a criança tem de se mover contra a gravidade. Ocorre sempre que existe movimento com mudança de direção, interferindo com a funcionalidade da criança no seu dia-a-dia. Manifesta-se pela ansiedade e/ou stress que a criança sente quando existe a possibilidade ou a realização de quedas.
Esta, interfere no relacionamento interpessoal, no desenvolvimento motor e no desempenho das atividades da vida diária da criança.
• Caraterização da população
Esta é uma desordem cuja base é de natureza neurológica. Como é de difícil diagnóstico, as crianças poderão aparentar possuir problemas comportamentais ou psicológicos. Poderão ser portadoras desta desordem crianças de todas as idades, com ou sem patologias associadas.
• Sintomas
Alguns dos sinais que podem sugerir que a criança sofre de insegurança gravitacional são os seguintes:
– chorar muito quando é retirado do berço;
– ansiedade quando os pés saem do chão (por exemplo, quando se senta num baloiço);
– medo exagerado de alturas ou de cair;
– intolerância ao ficar de cabeça para baixo;
– medo ou insegurança em superfícies instáveis ou escadas;
– medo de ser virado de costas;
– rejeição de novas experiências;
– escolha de brincadeiras sedentárias;
– crianças que preferem não ir ao parque e que quando vão, não participam nas brincadeiras que envolvem movimentos;
– crianças que podem gostar de atividades de movimento mas têm que se sentir completamente no controle antes de conseguir executá-las;
– qualquer movimento inesperado ou intervenção de outra pessoa assusta-a, fazendo com que desista da atividade ou entre em pânico.
• Avaliação
A avaliação deverá ser realizada por um Terapeuta Ocupacional, preferencialmente com Especialização na área da Integração Sensorial.
• Intervenção
A intervenção ao nível da Terapia Ocupacional com as crianças que apresentam insegurança sensorial, deverá ser realizada com recurso à teoria da integração sensorial, cuja abordagem procura auxiliar a criança a organizar as sensações do próprio corpo de acordo com os estímulos provenientes do ambiente. Assim, recorrendo à integração sensorial no brincar, poderão ser estimulados componentes físicos, mentais e sensoriais para que a reposta produzida seja a mais positiva possível, tendo em conta o contexto em que se encontra inserida.
Poderão ser desenvolvidas algumas das seguintes atividades:
– sentar-se ou deitar-se num baloiço e balançar-se;
– subir ou descer uma rampa;
– andar de bruços num skate numa direção linear;
– saltar para cima e para baixo num mini-trampolim;
– quando andar de baloiço, é preferível que o baloiço esteja suspenso a partir de dois pontos, para permitir o movimento linear e suave e minimizar os movimentos de rotação, que são muitas vezes, o medo de indução.
• Conselhos para pais e professores
– Respeite o espaço pessoal da criança;
– Reconheça que o problema é real para a criança;
– Respeite as reações da criança nas diversas situações;
– Ajude a criança a envolver-se gradualmente em atividades que são consideradas ameaçadoras por ela;
– Inicie atividades com movimentos lentos e rítmicos (por exemplo, iniciar atividades em que as crianças consigam tocar com os pés no chão ou segurá-la no colo);
– Proporcione estímulos propriocetivos extra (por exemplo a pressão nos músculos/ articulações/tronco) para ajudar a criança a sentir-se mais segura; se a criança demonstrar medo enquanto sobe as escadas, tente segurá-la pela anca e aplique pressão suave (a criança dessa forma sente-se mais segura do que se estiver segura pelas mãos);
– Proporcione estímulos que envolvem os movimentos suaves, para a frente e para trás, e só posteriormente estímulos que envolvam os movimentos rotatórios;
– Não submeta a criança a estímulos de movimentos para os quais ela não esteja preparada;
– Ajude a criança a envolver-se em atividades que envolvem as brincadeiras e o faz de conta;
– Pratique alguns movimentos com a criança quando esta tem os olhos fechados uma vez que isto vai ajudá-la a perceber melhor a posição do seu corpo no espaço;
– Coloque estímulos proprioceptivos como pesos (nos pulsos ou tornozelos) ou pacotes de arroz e sacos com areia na mochila (ajuda a proporcionar ao sistema nervoso central da criança, a sensação de estar mais segura). O uso de roupas apertadas ( por exemplo uma camisola interior de licra), também ajuda a criança a consciencializar-se mais sobre a posição do corpo dela no espaço, a diminuir o medo e a acalmar-se um pouco;
– É importante que a criança consiga tocar com os pés no chão, quando está sentada, a fim de evitar o movimento de balanço.
Dra. Raquel Gonçalves
Terapeuta Ocupacional do ITAD
Clínica de psicologia e terapia da fala em Lisboa
Av. Almirante Reis nº59 1ºEsq 1150-011 Lisboa – Portugal
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