A nossa boca
“Boca que fala não mastiga” ainda que seja nela que se desenrolam estes dois processos.
A nossa boca
A boca humana faz parte dos sistemas digestivo e fonador. É composta pelos dentes, língua, gengivas, palato (céu da boca), bochechas e lábios e envolvida por músculos, ossos, articulações e nervos. Realizando uma boa higiene oral diária podemos prevenir algumas patologias.
A dentição humana é composta primeiramente por 20 dentes (dentição decídua – “de leite”) e, numa fase adulta, por 32 dentes (dentição permanente – 8 incisivos, 4 caninos, 8 pré-molares e 12 molares). Os primeiros dentes surgem por volta dos 6 meses de idade e os últimos cerca dos 21 anos. Os dentes têm formas diferentes, dependendo da sua função.
Sistema Fonador e Sistema Digestivo
A cavidade bucal faz parte da última etapa do sistema fonador – o fluxo de ar proveniente da faringe tem dois meios de acesso ao exterior, a cavidade nasal e a bucal (o que distingue os sons nasais dos sons orais). Todavia, é na cavidade oral que o ar é articulado e se transforma em sons (fonemas) cuja produção dependendo do ponto de articulação – o local onde o fluxo aéreo é articulado (ex.: /v/ – labiodental – “com os dentes no lábio”).
O sistema digestivo inicia-se na boca onde ocorre a mastigação e têm início os movimentos impulsionatórios que ajudam a deglutir o alimento.
Qualquer alteração estrutural (exs.: fenda palatina, deformação pelo uso prolongado da chupeta) ou funcional (ex.: paralisia) na cavidade oral ou suas estruturas envolventes pode trazer problemas de fala (ex.: dificuldades articulatórias), de alimentação (ex.: disfagia – dificuldade em engolir alimentos líquidos ou sólidos) e de respiração, tomando, neste último caso, a cavidade oral o papel das fossas nasais e passando a respiração a ser oral ou mista em vez de exclusivamente nasal. (Estes tipos de respiração podem originar problemas na fala, na alimentação, no sono, no desempenho, na postura e no crescimento craniofacial uma vez que, de forma geral, aumentam a flacidez das estruturas reduzindo assim o seu desempenho).
Todas as problemáticas mencionadas podem ter outras etimologias além das alterações anatómicas e fisiológicas da cavidade oral, todavia, podem também advir destas.
O terapeuta da fala é um dos profissionais a que se deve recorrer em caso de alterações articulatórias, de mastigação e de disfagia.
Conselhos para pais e professores:
a) Dificuldades articulatórias
– Certificar-se que a criança não apresenta nenhum problema auditivo;
– Sinalizar as palavras que têm o som/ sons em questão;
– Associar o som que não é produzido a uma onomatopeia (exs.: /s/ sibilar da cobra, /m/ mugir da vaca, /z/ zumbir da abelha, /R/ rugir do leão);
– Incentivar a produção do som e pedir a correta repetição das palavras que o contêm quando a criança não o faz;
Os pais deverão treinar, em casa, a produção do som – segundo as indicações do terapeuta – e pedir a colaboração daqueles que estão habitualmente presentes no dia-a-dia da criança a fim de se conseguir a generalização do(s) fonema(s).
b) Dificuldades de mastigação
– Ingerir alimentos macios (exs.: iogurte, papas, purés, cremes);
– Humidificar os alimentos secos com molhos, caldos, leite, etc;
– Beber líquidos enquanto se alimenta;
– Cortar os alimentos em pequenos pedaços e mastigá-los lentamente;
– No caso da perda de peso, diminuir a quantidade mas aumentar o número de refeições.
c) Dificuldades de deglutição
– O ambiente de alimentação deve ser calmo, sem distrações ou pressa;
– A criança deve estar sentada e nunca deitada;
– A colher não deve estar muito cheia e não se deve misturar comida e bebida ao mesmo tempo;
– Não se deve falar com comida na boca;
– Não inclinar a cabeça para trás (pode provocar engasgamento ou sufoco);
– Incentivar a criança a mastigar bem;
– Verificar se a boca está vazia antes da próxima colherada;
– Evitar alimentos duros e secos;
– Não usar palhinhas;
– Dissolver os comprimidos;
– Se necessário, priorizar alimentos pastosos e líquidos espessados já que é mais frequente o engasgamento com líquidos;
– Deixar a criança sentada em repouso depois de comer.
Nota – existem técnicas específicas de posicionamento e alimentação para indivíduos com dificuldades acentuadas de mastigação e deglutição como acontece, por exemplo, com crianças com paralisia cerebral profunda.
d) Higienização oral
– Escovar os dentes pelo menos 2 vezes por dia (uma delas antes de deitar);
– Usar fio dentário;
– Realizar movimentos rotativos suaves, lavando dois dentes de cada vez;
– Começar numa ponta do maxilar e terminar na outra e fazer o mesmo na mandíbula. Lavar as superfícies internas, externas e mastigatórias dos dentes e a língua, da base para a ponta;
– Usar uma escova de dentes de tamanho adequado, macia e com cabeça pequena (chega a superfícies de difícil acesso);
– Não enxaguar a boca, deitando fora apenas o excesso/ resíduo de pasta (ação mais duradoura);
– No caso de crianças com dificuldades motoras, usar escova elétrica e um copo recortado para enxaguar a boca;
– Nas crianças mais velhas e adultos a escovagem deve demorar entre 2 a 3 minutos.
Dra. Alexandra Mestrinho
Terapeuta da Fala no ITAD
Clínica de psicologia e terapia da fala
Av. Almirante Reis nº59 1ºEsq 1150-011 Lisboa – Portugal
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