Disartria
Nem todos os indivíduos que apresentam disartria ou outras perturbações da fala são candidatos à intervenção terapêutica.
Disartria
A disartria é uma perturbação da fala que resulta de alterações no controlo muscular (paralisia, fraqueza ou descoordenação) devidas a lesões no sistema nervoso central ou periférico. Pode ser crónica e congénita ou adquirida.
Existem diferentes tipos de disartria, dependendo do local da lesão – flácida, espástica, do neurónio motor superior unilateral, hipocinética, hipercinética, atáxica, mista e indeterminada. Cada uma destas disartrias afeta a performance das estruturas pulmonares, laríngeas, faríngeas e da cavidade oral envolvidas na produção de uma fala harmoniosa.
Apesar das variações individuais, é comum encontrar sintomas como a diminuição da velocidade da fala, a imprecisão articulatória e um discurso monocórdico, quer no que respeita à intensidade quer à altura tonal.
A disartria em crianças resulta geralmente de uma lesão cerebral ocorrida antes ou durante o parto, tendo como caraterísticas uma respiração superficial e irregular, uma voz tensa/ rouca/ nasal, sialorreia (baba), disfagia (problemas em engolir) e dificuldades articulatórias, o que condiciona o desenvolvimento, a comunicação, perspetivas futuras profissionais e o relacionamento interpessoal.
Desta forma, e porque a disartria é uma perturbação da fala, é importante que todos os pacientes sejam avaliados por um terapeuta da fala.
Avaliação
A avaliação é constituída por um conjunto de tarefas que avaliam as 5 bases de uma fala inteligível: a respiração, a fonação, a ressonância, a articulação e a prosódia.
Na respiração avalia-se o tipo (costal superior, abdominal, costodiafragmática, mista, e/ou inversa) e a velocidade de fala; na fonação analisa-se a qualidade vocal, o ataque vocal, a intensidade e a altura tonal; na ressonância o movimento do véu do palato e a nasalidade; na articulação os movimentos dos diferentes órgãos articulatórios em repouso e durante a fala bem como a inteligibilidade do discurso; na prosódia a manutenção da sílaba tónica e da entoação na frase e entre frases.
Candidatos ao tratamento
A elegibilidade para a intervenção em terapia da fala depende do diagnóstico e do prognóstico médico, da fase de recuperação (que pode ser tanto espontânea como estacionária), da motivação e da necessidade.
Pacientes neurologicamente instáveis, numa fase flutuante de saúde ou que aguardam um tratamento médico específico; utentes com doenças degenerativas, depressão ou perturbações cognitivas; indivíduos que não demonstram incapacidade ou desvantagens associadas à disartria não são bons candidatos.
Tratamento
De forma geral, o principal objetivo é maximizar a comunicação, procurando-se restaurar, compensar ou ajustar a função perdida. Todavia, existem vários modelos de intervenção tendo cada um os seus objetivos e técnicas específicos. No modelo médico recorre-se à farmacologia (para aliviar os sintomas ou atuar na doença de base) ou a intervenções cirúrgicas; no tratamento protético modifica-se parte do processo natural da fala através de alterações no trato vocal (exs.: sistemas de amplificação, prótese do palato); na abordagem comportamental visa-se maximizar rapidamente a comunicação centrando-se a intervenção na fala, em meios alternativos de comunicação (ex.: tabelas de comunicação) ou em ambos; na abordagem centrada no falante pretende-se restaurar ou compensar as funções da fala perturbadas (exs.: melhorar a inteligibilidade de fala, a respiração ou a prosódia); na abordagem centrada na comunicação tenta-se potencializá-la, alterando-se, para tal, as estratégias usadas na fala, o comportamento do(s) ouvinte(s) (ex.: reduzir a distância entre o falante e o ouvinte) ou o ambiente envolvente (ex.: diminuir o ruído).
A intervenção em perturbações moderadas centra-se principalmente no falante enquanto que em alterações severas incide sobretudo na comunicação.
A duração do tratamento depende de fatores como a etilogia e a severidade da patologia, a duração da hospitalização, o tipo de tratamento adotado, a motivação e a necessidade. No final da intervenção devem reavaliar-se periodicamente as necessidades, a capacidade de fala e a comunicação do paciente.
É fundamental que os utentes estejam conscientes que a recuperação total da fala não é, na maioria dos casos, um objetivo realístico.
– Aconselhamento para pais e professores
• Informar-se do diagnóstico e do prognóstico;
• Procurar ajuda profissional no caso de ansiedade, depressão ou desmotivação;
• Reduzir os barulhos de fundo e fatores distráteis;
• Manter o contato ocular;
• Dar tempo de resposta;
• Não terminar as frases (exceto se o indivíduo o preferir) ou corrigir sistematicamente os erros;
• Pedir esclarecimento da mensagem usando perguntas sim/não ou parafraseando (ex.: Perguntou se vou de carro para casa?);
• Reduzir o número de interlocutores e informá-los acerca do problema e do método de comunicação mais eficaz;
• Praticar o uso dos meios de comunicação alternativos, se for esse o caso;
• Promover a comunicação e a interação social;
• Praticar os exercícios propostos.
Dra. Alexandra Mestrinho
Terapeuta da Fala no ITAD
Clínica de psicologia e terapia da fala
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