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Dificuldades articulatórias

Postado por sergio, em 8 Fevereiro 2016 na Blog

1. Articulação
A articulação verbal é um processo onde intervêm órgãos essenciais para a produção da fala, tais como os pulmões, a laringe e a cavidade oral.
No processo de produção da fala existem articuladores que estão directamente envolvidos, sendo que a respiração desempenha também um papel fundamental para que exista fala. A modulação do fluxo de ar expirado é a origem dos diferentes sons existentes, resultante da passagem do ar pela laringe, mais propriamente, nas cordas vocais.
É na cavidade oral que ocorrem a maioria dos movimentos articulatórios através das das estruturas passivas e ativas. As estruturas passivas não apresentam qualquer mobilidade, sendo exemplo destas os alvéolos dentários e o palato duro. Por oposição, as estruturas activas são as que apresentam mobilidade no processo articulatório, tais como os lábios, o palato mole, a úvula, a língua e a mandíbula. Estes articuladores em conjunto regulam a produção da fala, pois deles dependem os diferentes sons, variando no ponto e modo de articulação.
Guimarães (2007) descreve a articulação como o resultado da modificação do som na cavidade oral em sons nomeados como vogais e consoantes ou até mesmo outras unidades fonológicas da linguagem.

2. Perturbação Articulatória
Segundo o DSM V, a Perturbação Articulatória é caracterizada pela dificuldade persistente ao nível da produção da fala que, consequentemente, vai interferir na inintegibilidade do discurso, podendo mesmo impedir a comunicação verbal oral. Na presença desta perturbação a criança apresenta limitações na comunicação, interferindo nas competências sociais, académicas e pessoais.
O seu aparecimento surge numa fase precoce do desenvolvimento da criança. A Perturbação Articulatória é diagnosticada quando a produção da fala não ocorre como seria esperado, tendo em conta a idade e a fase de desenvolvimento da criança, quando estas alterações não são consequências de patologias congénitas ou adquiridas, como paralisia cerebral, fenda palatina, surdez ou perda auditiva.

3. Etiologia
A Perturbação Articulatória, como já foi referido anteriormente, é caracterizada pela imprecisão na produção dos sons, podendo por vezes afetar a fala na sua totalidade. Existem diversos fatores que potenciam esta perturbação, nomeadamente:
– Velocidade da fala;
– Respiração oral;
– Oclusão dentária alterada;
– Tonús muscular alterado;
– Articulação cerrada;
– Alterações estruturais da cavidade oral.
Na primeira infância também podem estar presentes hábitos orais, que resultaram em alterações anatómicas e funcionais, podendo interferir precocemente no desenvolvimento dos órgãos fonoarticulatórios das crianças.

4. Prevalência
As perturbações ao nível da fala e da linguagem constituem, em Portugal, o problema mais frequente no desenvolvimento infantil, com incidências que variam entre 2 a 19%, e cujo impacto da sua permanência ao longo da idade escolar pode interferir negativamente nas competências de leitura e escrita e na socialização ao longo de todo o percurso académico, podendo mesmo estender-se até à idade adulta.
Assim como em Portugal, os Estados Unidos da América apresentam valores de prevalência de perturbação articulatória elevados, estimando que 3.8% das crianças até aos 6 anos apresentem esta perturbação.

5. Avaliação
A avaliação é um processo contínuo que pode ser efetuada através da realização de testes formais ou informais que permitam fazer uma identificação precoce de atrasos/desvios do desenvolvimento da criança. É imprescindível a execução de uma avaliação cuidada, pois só assim é possível a realização de um diagnóstico preciso e bem definido, permitindo a identificação da etiologia e de fatores de risco, bem como uma intervenção mais eficaz.
Em Portugal, existem alguns testes formais de avaliação que permitem aferir a existência de Perturbações Articulatórias, sendo o mais utilizado o Teste de Articulação Verbal (TAV).
O Teste de Articulação Verbal foi desenvolvido por Isabel Guimarães e Margarida Grilo, no ano de 1996 e editado pela Fisiopraxis. É um teste aferido à população portuguesa constituído por cinquenta e uma imagens, das quais fazem parte todos os fonemas, nas diferentes posições da palavra. Deve ser aplicado em crianças com idades compreendidas entre os três e os seis anos, pretendendo-se que a criança identifique e nomeie as imagens apresentadas para que, posteriormente, o terapeuta da fala possa aferir os sons produzidos e identificar as alterações existentes.

6. Intervenção
Na intervenção com crianças com Perturbação Articulatória pode ser utilizada a abordagem articulatória. Esta abordagem pretende trabalhar a articulação a partir de um treino multissensorial, com o objetivo de a criança perceber, controlar e corrigir as suas produções sonoras quando necessário. Estas correções são alcançadas através de exercícios cinestésicos e de tato, uma vez que estes aumentam a perceção/consciência dos movimentos necessários para a produção de determinado som e ajudam na reorganização do sistema abstrato de sons.

Em suma, a intervenção terapéutica nestas perturbações deve não só incidir na nomeação de itens e correção dos erros articulatórios existentes, bem como na consciencialização dos momentos articulatórios que cada som necessita para ser produzido.

Dra. Marisa Santos
Terapeuta da Fala do ITAD
Clínica de psicologia e terapia da fala em Lisboa
Rua Professor Fernando da Fonseca nº 8A, 1600-616 Lisboa – Portugal
211 371 412 – 961 429 911

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