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Hiperatividade na Escola

Postado por sergio, em 1 Fevereiro 2015 na Blog

O tema da Hiperatividade na Escola é uma das principais preocupações dos professores das escolas de hoje. O que fazer com estas crianças é um mistério para muitos técnicos da saúde e educação

 

Hiperatividade na Escola

“(…)Eu já não sei o que fazer… Nunca para quieto,
está-se sempre a levantar e a pedir para ir à casa de banho…
fala de mais e quando não deve, não se consegue concentrar,
os cadernos são uma vergonha. Depois claro tenho que o castigar
e escrever-lhe na caderneta!(…)”

A Perturbação da Hiperactividade e Défice de Atenção (PHDA) é uma perturbação neurocomportamental do desenvolvimento classificada na DSM-V pela presença de critérios de desatenção, hiperactividade e impulsividade de uma forma mais intensa e frequente que o habitual nos seus portadores ao longo do ciclo vital, embora seja mais vezes diagnosticado na infância e adolescência.

Existe muita controvérsia sobre o tema uma vez que é um dos problemas mais estudados contudo a sua multiplicidade conceptual, as resistências à intervenção e o abuso do seu diagnóstico tornam esta perturbação “na moda”, mas a realidade é que a Hiperatividade e Défice de Atenção é uma perturbação grave e tem consequências para quem dela sofre. De uma forma geral, estas dificuldades parecem resultar supostamente dos problemas de atenção, impulsividade e sobretudo da irrequietude motora, todavia estas três caracteristicas acarretam também elas consequencias de ordem secundária como é o caso da dificuldades na aprendizagem e na linguagem, problemas comportamentais, problemas nas suas relações sociais, dificuldades na realização académica e insucesso escolar (…), e é exactamente sobre este último que o presente texto se debruçará.

Hiperatividade na Escola emerge e torna-se um factor de risco para o insucesso escolar dadas as dificuldades ao nível da aprendizagem sentidas pelos alunos.

Os alunos com Hiperatividade e Défice de Atenção tem muita dificuldade em manter o foco na atenção sustida, motivar-se perante as tarefas, submeter-se a regras rigidas, esperar pela sua vez, organizar e monotorizar o seu pensamento e comportamento, devido aos defices nos processos executivos, o que leva a imensas dificuldades na realização de tarefas prolongadas, no planeamento do estudo, na organização do material escolar, na contenção dos compotamentos mais hiperactivos e impulsivos, o que leva a que surjam por parte dos docentes situações complexas e de grande frustração. Para além disto, o defice de atenção significativo prejudica a atenção selectiva e como tal origina distracção comprometendo os seus níveis de realização escolar muito abaixo do que seria expectável tendo em consideração as suas capacidades.

A Hiperatividade na Escola apresenta consequências graves, uma vez que é um contexto onde as crianças se devem comportar segundo aquilo que é aceitável “sentados, quietos e calados”, agravando-se a Hiperatividade e Défice de Atenção sempre que o número de comportamentos aceitáveis é mais restrito. Por esta razão as crianças com Hiperatividade e Défice de Atenção ao apresentarem problemas de comportamento e/ou dificuldades na aprendizagem tornam-se assim vulneráveis a este ambiente, entrando muito frequentemente em conflito (ex: suspensões, retenções, insuesso escolar, abandono escolar).  As principais dificuldades de aprendizagem estão centradas na leitura, escrita e cálculo e isto deve-se essencialmente ao facto de não conseguirem atingir o seu potencial de aprendizagem pelas consequências advindas da PHDA, sendo frequentemente sinalizadas como crianças com Necessidades Educativas Especiais (NEE), embora cognitivamente sejam frequentemente consideradas dentro da média ou até superiores tendo em conta o seu quoficiente de inteligência.

Estas dificuldades resultantes da Hiperatividade e Défice de Atenção são muito punidas no contexto escolar pelas consequências e comportamentos que promove e frequentemente as crianças e jovens não cumprem porque não o saibam mas porque não conseguem agir de acordo com o conhecimento que tem sobre o tempo – o futuro – agindo por reflexo, impulso. Assim sendo as crianças e adolescentes hiperactivos nem sempre estão disponíveis para as aprendizagens e isto deve-se sobretudo ao facto de não estarem motivadas. Para além disto, a verdade é que actualmente o sistema escolar parece ainda não está capacitado para contornar os obstáculos e a punição é uma constante no recurso a estes alunos. É frequente os professores mencionarem e rotularem estes alunos como “mal educados”, “preguiçosos”, “caóticos”, “desatentos ou distraídos”, “descuidados e muito pouco organizados”, todavia esta falta de foco nos objectivos e a falta de persistência dos mesmos é também ela muitas vezes observada em espelho, ou seja, é também essencial que os professores (com auxilio) consigam ajudar estas crianças e jovens com foco e persistência.

Posto isto o professor torna-se preponderante e fundamental em qualquer diagnóstico e avaliação de crianças com PHDA, sobretudo porque são eles na maioria das vezes quem sinaliza as situações perante os sintomas apresentados e o que percepcionam da criança.

A Hiperatividade na Escola requer um cuidado especial, caso contrário a resposta quer do professor como do aluno condiciona o desenvolvimento de sentimentos de aversão e/ou negativos assim como toda a sua acção e resposta perante determinada situação é colocada em causa. É complexo trabalhar com estes alunos uma vez que não é fácil captar a sua atenção e motiva-los, todavia há caracteristicas que são fundamentais como sendo a disponibilidade, flexibilidade, tolerância, comunicação (reforçando a autoestima da criança e jovem ao mesmo tempo e de forma muito equilibrada com a sua firmeza), preserverança, motivação e formação específica, caso contrário poderá ser colocado em risco o trabalho de todo um ano lectivo, sobretudo no que concerne à relação professor-aluno e às respostas permitidas e proporcionadas perante as necessidades das crianças e jovens com PHDA. É necessário que os docentes sejam conscientes que os seus alunos com PHDA não agem deliberadamente de determinada forma somente porque “sim” mas porque existe uma problemática por detrás dos mesmos e que com uma intervenção poderemos diminuir os comportamentos indesejaveis e perturbadores do bom funcionamento escolar.

Como é isto possível? É verdade que leccionar perante uma turma de vinte e muitos alunos, com caracteristicas de comportamento específicas e ainda ter alunos com PHDA nessa mesma turma, não é tarefa fácil e requer um grande esforço e compromisso por parte do docente contudo é essencial que através de estratégias e adequações pedagógicas consiga minimizar as dificuldades sentidas e não maximizá-las. É importante perceber o cerne da questão e procurar motivar estes alunos, esta “falta de persistência e de esforço nas tarefas” ocorre porque frequentemente para os alunos com Hiperatividade e Défice de Atenção estas não são atrativas e porque os efeitos imediatos relativamente à sua conclusão não é aliciante.

É sem dúvida na escola que mais facilmente se observam as consequências da PHDA, sobretudo ao nível da aprendizagem e do comportamento. Todavia é observado usualmente um desfasamento no que respeita à natureza e gravidade bem como aos recursos a serem utilizados pelos mesmos, nomeadamente as estratégias de intervenção mais adequadas. Quando a frustração do professor face ao aluno e vice-versa não é intervencionada esta pode criar um seentimento de hostilidade entre ambos. É então importante que em sala de aula o professor consiga ser interactivo, directivo e auxiliar o aluno com PHDA sobretudo recorrendo a um ambiente estruturado, adaptar materiais, saber contornar e compensar os comportamentos do aluno sempre que se verifiquem como sendo positivos ou desejáveis (premiar o esforço, elevar a autoestima e auto-conceito), pois só assim a criança ou jovem se sentirá motivado, ao fim ao cabo o grande objectivo é autoregular o aluno de forma autonoma mas contida. Por outro lado a punição dos seus comportamentos mais disruptivos levará a um possível insucesso escolar, ou seja, é fundamental centrar-nos nas potencialidades do aluno e não nos comportamentos de modo a que este aluno sinta isto e consiga alcançar o sucesso.

Também é fundamental com estes alunos que exista uma modificação de alguns comportamentos e como tal é essencial que com o auxilio do psicólogo, pais e professores sejam consistentes, nomeadamente a definir o comportamento problemático, saber quais as medidas e como podem surtir efeito, promover a intervenção desejada sempre recorrendo ao reforço (mais vale incentivar do que punir!) e ao mesmo tempo ir sempre avaliando as possíveis mudanças, o que pode ou não funcionar com o caso em questão na escola (sistema de pontos, time-out, auto-instruções, alteração na dinâmica de sala de aula e de avaliação (lugar, tipo de perguntas…..), sempre mantendo uma perspectiva de que a criança tem uma dificuldade especifica.

O recurso à comunicação é ainda um grande aliado nos casos com PHDA, isto porque se trata de um problema em que frequentemente não existe controlo sobre o que ocorreu. Assim sendo os profesores devem incentivar os seus alunos a falar sobre o que aconteceu, sobre o que sentiram pois é muitas vezes a partir daqui que os alunos conseguem interiorizar o que fizeram e as suas consequencias ao mesmo tempo que obtem maior controlo sobre o seu comportamento – orientar para a autoregulação, para objectivos futuros (ex: cumprir regras, completar tarefas, obter resultados positivos…) – e se promove o estabelecimento de uma relação mais empática.

Acrescenta-se ainda que a medicação, não produz ganhos cognitivos, todavia recorre-se à mesma porque de forma indirecta as crianças começam a ser encaradas mais positivamente pela comunidade escolar (professores, colegas e funcionários) permitindo o estabelecimento de relações sociais, todavia é importante salientar que quanto mais precocemente for diagnósticado o problema maior e melhor será a intervenção no que concerne à adaptação escolar e que esta deve ser holística e que associe diferentes estratégias e técnicas de modo a auxiliar tanto a criança como os seus cuidadores ao longo do seu desenvolvimento, não cingindo a criança a uma medicação que atenue os efeitos da sua problemática que “hiperactivam” os agentes educativos mas uma intervenção que beneficie a criança e o seu desenvolvimento.

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Comentários

2 comentários para "Hiperatividade na Escola"

  • anabela cardoso
    31.03.2018

    Eu tenho dois filhos diagnósticados com hiperatividade e tomam medicação, a mais velha tem 11 anos e tem a autoestima baixa foi necessário recorrer ao apoio de psicológico neste momento já está melhor porque consegue ter notas razoáveis e já está no sexto ano, porque até ao 4 ano foi muito difícil porque a professora nunca a consegui motivar. Quanto ao mais novo tive o azar de ser a mesma professora e embora ele até tenha notas razoáveis para o 2 ano a professora também não está a conseguir mutivalo e diz muitas vezes que está com a cabeça no ar porque faz perguntas depois de ela ter explicado algum exercício diz que ele tem que se auto motivar. Eu até já lhe fiz a avaliação cognitiva , e o resultado é que ele é muito inteligente, mas não está a ser motivado, quando foi receber a avaliação do 2 período comuniquei este resultado a professora, mas não o aceitou como mãe estou muito frustrada, gostaria que me dessem algumas dicas para utilizar em casa para o mutivar para o estudo. Atentamente Anabela Cardoso

    • 04.04.2018

      Apreciada Anabela, a desmotivação escolar pode ser uma consequência de falta de capacidade ou excesso de capacidade intelectual. Ainda assim, seria necessário realizar uma avaliação neurocogntiva para determinar qual a melhor estratégia para o seu filho mais novo. Capacidades cognitivas como o planeamento, atenção, impulsividade, organização, etc são essenciais para as boas aprendizagens, por isso têm de ser avaliadas. Algo que poderá realizar você mesma, é disponibilizar exercícios de português e matemática de vários anos escolares diferentes, para ele realizar os que se que lhe são um desafio.

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