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Hiperlexia

A hiperlexia é um síndrome muitas vezes associada ao autismo e que se carateriza pela capacidade de leitura precoce e pela obsessão por números e letras e que por vezes é acompanhada pelo atraso noutras áreas do desenvolvimento. Assim as principais características da hiperlexia são a capacidade precoce de leitura, dificuldade em lidar com a linguagem oral e inadaptação social dos comportamentos.

hiperlexia

Como se diagnosticar?
As crianças hiperléxicas apresentam caraterísticas específicas que permitem o diagnóstico desta patologia. A partir dos 18 meses, as crianças hiperléxicas já começam a demonstrar a capacidade para identificação de letras e números e, aproximadamente, a partir dos 3 anos são capazes de reconhecer o agrupamento de letras e formar palavras, mesmo que estas não façam sentido no contexto.

Outra caraterística crucial para diagnosticar hiperlexia consiste na facilidade da criança em ler frases inteiras em paralelo com a falta ou atraso no domínio da linguagem oral comparativamente a outras crianças da mesma idade.
Além disso, as crianças hiperléxicas também apresentam dificuldades nos relacionamentos sociais bem como resistência à mudança dos seus horários e atividades, procurando encontrar padrões em todas as situações.
De realçar que a hiperlexia não está relacionada nem é consequência de nenhum método de ensino, ou seja, a capacidade de ler, nestes casos, não é algo que seja ensinado, não havendo instruções para que a criança reaja desta forma. Assim, as crianças hiperléxicas, aprendem, simplesmente, a descodificar as palavras a partir da identificação de letras.
As crianças hiperléxicas lêm tudo os que os olhos encontram em forma de letra, pelo que pode ser difícil manter as crianças sentadas por um período de tempo, pois, estas crianças, não conseguem evitar a leitura dado que os estímulos visuais tem um efeito de “íman”, principalmente em forma de letras.

Tipos de hiperlexia?
Além das dificuldades referidas, as crianças com hiperlexia apresenta fraca compreensão da leitura e pensamento literal, apresentando dificuldades no pensamento abstrato.
A hiperlexia, por vezes, surge associada a casos de transtorno do espetro do autismo, síndrome de Asperger, perturbação específica da linguagem, défice de atenção ou então pode surgir apenas como uma aprendizagem precoce.
Atualmente existem ainda dificuldade no diagnóstico da hiperlexia, na medida em que, a hiperlexia pode pertencer a um tipo de perturbação do espetro do autismo ou se é simplesmente uma caraterística de algumas crianças com um desenvolvimento diferente. Por vezes acontecem situações em que crianças que são diagnosticadas tardiamente com hiperlexia e que parecem já não pertencer a uma perturbação do espetro do autismo, podendo ainda manter alguns comportamentos anti-sociais. Com o avançar do desenvolvimento, à medida que as capacidades de compreensão e de expressão da linguagem melhoram, os comportamentos repetitivos e as dificuldades de socialização desaparecem. Ou seja, na realidade, estas crianças nunca foram autistas.

Assim, existem três tipos principais de hiperlexia:

Hiperlexia Tipo I
As crianças com hiperlexia do tipo I são criançãs neurotípicas que lêem precocemente para satisfazer os seus pais e professores. Na realidade, este padrão refere-se ao início de uma forma de memorização que é seguida por uma verdadeira leitura de palavras. Assim, as crianças que apresenta este tipo de hiperlexia começam a ler entre os 2 e os 4 anos de idade, não apresentando comportamentos associados à perturbação do espetro do autismo, sendo a esta capacidade interpretada apenas como uma facilidade, pelo que não necessitam de nenhum tratamento.

Hiperlexia TIPO II
A hiperlexia do tipo II surge como um sintoma associado à perturbação do espetro do autismo. As crianças com hiperlexia do tipo II lêem de forma voraz e memorizam facilmente o que lêem. Normalmente, a hiperlexia também está associada a outras facilidades como a facilidade para fazer cálculos, memorizar datas.
As crianças com hiperlexia do tipo II costumam ter diagnóstico de autismo ou Asperger.
Nestes casos a intervenção terapêutica é crucial e foca-se nas principais dificuldades apresentadas por crianças com autismo.

Hiperlexia Tipo III
As crianças com hiperlexia do tipo III apresentam caraterísticas semelhantes ao espetro do autismo, contudo, estas caraterísticas desaparecem à medida que a criança cresce. Assim as crianças com hiperlexia do tipo II lêem precocemente, mostram capacidade de memória e podem ter dificuldades a nível sensorial, ecolália, inversão de pronomes, fobias específicas, tendência a alinhar objetos, e boa memoria visual/auditiva.
A principal diferença entre as crianças com perturbação do espetro do autismo e as crianças com hiperlexia do tipo III consiste no fato de estas manterem relação de reciprocididade com os seus familiares próximos, contudo com os seus pares apresentam dificuldades de socialização. Apresentam capacidades muito boas em várias áreas, sendo as capacidades de leitura e de memória aquelas que estão melhor desenvolvidas.

Assim, nestes casos, as caraterísticas que os assemelhavam a crianças com perturbação do espetro do autismo desaparecem com a idade, pois na verdade, estas crianças nunca apresentaram perturbação do espetro do autismo.

Intervenção terapêutica
A intervenção terapêutica está dependente do tipo de hiperlexia que a criança apresenta.
Geralmente, na hiperlexia do tipo III, sendo que esta é considerada a verdadeira hiperlexia, a intervenção terapêutica incide na promoção da comunicação verbal e no desenvolvimento da linguagem oral de forma a promover a socialização da criança com os seus pares.

Estratégias para pais e professores
Algumas teorias defendem a criação de salas especiais para hiperléxicos, pois a presença de uma criança hiperléxica no grupo de alunos implica algumas alterações na rotina da sala de aula, na rotina dos professores e muitas vezes alteração no programa curricular.
Contudo, é importante tanto para crianças normais quanto para a criança hiperléxica que sejam expostas a relação com outras crianças em diferentes condições para que possam experienciar diferentes formas de comunicação.
Por outro lado, os professores devem estar preparados para usar, de forma criativa, a capacidade de lidar com as palavras e números.
Além disto é também crucial que os pais professores estimulem os relacionamentos sociais da criança, pois, para a criança hiperléxica, a criança normal fala muito, mas é esta interação que permite que ela reconheça os aspetos funcionais da comunicação oral.

Dr. Sérgio Pereira
Psicologo do ITAD
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